sábado, 4 de dezembro de 2010

Se não é o Pedro Nercessian - O príncipe!



Hoje fui príncipe.
Não como das outras vezes que fui príncipe alugado.
Hoje fui príncipe dado. Hoje me tornei presente.
Hoje não dancei com menina rica, filha de fazendeiro, ou de empresário.
Hoje não recebi via depósito bancário.
Pelo contrário..
Recebi a vista, com a vista de um sorriso e gotas de água salgada.

Chego, como quem chega do nada.
Vejo aquela menina, 15 anos, recém completados. Nada de fumaça, nada de luzes, nada de docinhos com florzinha em cima. Dos fundos da casa se fez-se o salão improvisado, o celofane na luz florescente dá o toque de magia praquele lugar...
Ao em vez de DJ veio o bom e velho micro-system. Ao invés de garçom, a risonha mãe da aniversariante servia guaraná em copos de plástico branco. Usado como bandeja, uma simpática forma de aluminio. E no meio disso tudo, parada, com um simples e lindo vestido azul está ela.. A menina surpresa, imóvel com as mãos na boca e os olhos que começam a pingar quando me vêem.
Naquele momento, pensei: Caramba!!
Respirei fundo, vesti a armadura de príncipe e sob um coro de gritos histériocos das amigas fui de encontro á estrela daquela noite. Fui de encontro à filha da empregada que acabara de se tornar princesa.
Seguro a mão tremula da minha pequena dama, olho bem para o rostinho vermelho que tenta se definir entre a alegria e a emoção e digo: Feliz aniversário!!
Ela muda, se deixa conduzir pelo parceiro que se esforça para fazer daqueles passos desencontrados uma bela valsa. Peço perdão pela falta do terno. "Que príncipe fajuto" - Penso eu. Ao invés da beca, uma jaqueta jeans escolhida a dedo e retirada cuidadosamente do figurino da peça sem que o restante do elenco perceba, tudo para ficar mais apresentavél..
Mais ela nem ouve minhas desculpas. A valsa parece lhe anular os sentidos. Eu via no reflexo de seus olhos uma mega festa de gala, com garçons, DJ, arco de bolas, muito gelo seco pelo chão e principalmente um príncipe de verdade, com direito a smoking e gravata-borboleta!
Pelos olhos da menina entrei naquele sonho, e lá ficamos, dançando, dançando e dançando.
Passam alguns poucos longos segundos, olho novamente e me espanto ao ver que lágrimas ainda correm. Elas descem pelas bochechas até desagurar em um lindo sorriso de menina. Quando viro na direção do sorriso, vejo uma senhora magrinha, por incrivel que pareça, ainda mais feliz que a menina. Nunca vi nada com mais amor que a troca de olhares entre aquela menina e a senhora com a forma de aluminio nas mãos.
Continuo dançando, tentando esconder minha emoção com o sorriso. Imagina, um príncipe não chora. Sigo dançando, dançando e sorrindo. Foi quando aqueles minutos intermináveis, terminaram..
Dou um beijo em seu rosto molhado e a entrego a um bando de amigas eufóricas e cheias de perguntas e exclamações. Viro e de surpresa sou pego por um abraço e uma frase que me tiram o ar: "Muito obrigada, meu filho!". Antes que alguém perceba, deixo o local e corro para o quintal. Respiro fundo e sem que ninguém veja deixo transbordar duas gotas aos meus olhos de menino.
Ouço chamarem meu nome. Recomponho-me rapidamente e me apresento para a cessão de fotos. Depois de muitos autógrafos, alguns salgadinhos e refrigerantes...me despeço de todos e saio da festa. A aniversariante e sua mãe vão me acompanhar até o portão. Já dentro do carro recebo o último adeus daquele sorriso de menina do tamanho da alegria de se ter 15 anos.
Quando estou quase arrancando a senhora como que por impulso, toma a frente da menina e vem em minha direção.. envolve minha mão direita em suas mãos magrinhas e diz: "Deus lhe pague, meu filho!"... Olhando no fundo daqueles olhos cansados eu pensei: Ele já pagou, senhora. Ele já pagou.
Pedro Nercessian - O Príncipe!
(Um dos textos que mais gosto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário